quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Desatino

Jaz
na rua a
massa crítica
o grito
de fôlego
a marcha
reduzida
em caminhar
trôpego

E jaz
na idéia
sua resistência
as horas perdidas
a desobediência

Dilaceras
minha carne
mas não
arrebata
minha alma,
Mostra-me
a essência
das fendas
na calçada,
que sou
puro
suicídio
no desequilibrio
torpe.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Experimento

Olhos de águia,
Coração ardente,
Sou menos
o que voa
do que aquele
que sente

o vento
por debaixo
das asas,
das costas,

o arrepio
pêlos,
das penas,

o aroma inodoro
da água
atravessando
o tecido
mucoso
das narinas

A pressão firme
da terra
exercendo força
contrária aos
dedos

a planta do pé
que planta
a estrutura
corpórea
no solo
trazendo
à tona
o que
Kundera chamou
a insustentável
leveza do ser,

seja ela,
física,
mental,
ou pura obra
do destino.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Amar é

O amor
não é
gramática,
sem regência
ou concordância
amar é
matemática,
é solução
trágica
é o encontro
entre duas
peles
uma inerte
a outra
estática

Pablo

Violenta
meu espírito
para que
tudo
que é frágil
se extingua

Mostra-me
o porque
da minha
fraqueza,
como a
fluidez
dos meus
passos,
sustenta
o medo
profundo

Atira-me
contra
o chão
para que
da fúria
renasça
minha ânsia
revolucionária

Liberta-me,
suplico-te,
liberta-me
pois nada
me faz mais
morto
do que
o cárcere
da solidão
individual

Nada me
degrada tanto
quanto a lógica
atomística,
inconscientemente
internalizada
que acompanha-me
em cada gesto,
em cada palavra,
como nome,
sobrenome,
como parte
de mim.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Gregos e Troianos

Brada forte
intrépido
Caronte
tua larga
flâmula
erguida
pela inépcia
da pouca
fortuna
que na falta
de outra
coisa,
são teu meio
de existência

Ergue teu
símbolo
fálico,
indubitavelmente
fálico
para que sirva
de alvo
de corrente
de guia
pros passos
descalços
dos camponeses,
nas linhas
que jamais
traçastes

Infla a
grande bomba
construída
das centelhas
de lágrimas
e de fé,
cuidadosamente
coletadas,
silenciosamente
disfarçadas,
para que
em seu íntimo,
exploda como
convulsão ardente

Para que emerga
como a vida
que brota
nas fendas
da firme
estrutura de
concreto

Para que renasça
como
cavalo-de-tróia,
herança humana
do espírito
que eternamente
nos conduz,
ao começo.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Rapsódia tragicômica

Retomo
vacilante
o velho
... experimento
abandonado

Certo da
trajetória,
do fim
inescapável,
retomo os passos
insolúveis
em doce
infantilidade

Coração negro
de fervura,
sinapses
sistemáticas,
sinestésicas
ilusórias

Caminhos e
descaminhos
em colisões
perpétuas,
ignóbeis

Tudo
ritimizado,
vitimizado,
minimizado

Já não há
palavras
Já não há
desculpas

Agora
é tudo
velho,
a mesma
sinfonia,
a mesma
ópera,
os mesmos
atores
nos mesmos
lugares
com as mesmas
piadas.

Tudo
automaticamente
salvo,
dói.