sábado, 29 de outubro de 2011

Dislexia

Tristes tempos,
protestante
é não católico,
não quem grita,
quem ouve


Tudo é
massa,
inerte,
fraca,
falsa


Sempre a ordem,
a maldita ordem!
Sempre o Medo,
a velha insegurança
diante da mudança

Chamam-nos Marxistas,
baderneiros,
anarquistas,
irresponsáveis,
trogloditas

Maldizem o mundo,
mas estão parados,
Criticam politicos,
mas estão calados,
Reclamam do tempo,
mas estão celados


Percam por omissão,
denunciam o próprio
irmão,
figem buscar liberdade,
mas lutam pela
escravidão.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Silêncio em Wall Street

Fina febre
Estampa,
Corrói,
o rosto,
a alma

Convulsão louca,
Arrastada,
Cria a força
O corpo,
O ultimo centésimo

Cem mil pessoas
Na rua,
e nada

Um décimo de
Milhão
E um silêncio
Mortal

Quatro cantos
Do mundo
Gritando
No vácuo

Toda a voz ,
Respirando
Desprezo

E a velha peça
Posta novamente
Em cartaz

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Anomia

Vaga alma,
translúcida,
resquícios
da manhã
solar

Conflito de
entremundos,
sinestésico,
pobre de espírito,
é jaula de ferro

É medo
É sono
É mundo

Anestésico

Epopéia Animal

(História de burrinhos)


Acorda,
Levanta,
Come,
Trabalha,
Come,
Trabalha,
Come,
Dorme

Repete tudo
cinco vezes,
sempre no
imperativo,
até ficar
cansado

Acorda..

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O homem mais feliz do mundo

Em um dia como outro, o filho mais velho( mais ou menos com seus 17 anos) entra na sala de estar apressado e de súbito dirige-se ao seu velho questionando-o:

- Bom dia Pai! Estive pensando sério e gostaria de saber quando é que vou poder ter meu próprio carro?

O pai um pouco surpreso com o novo interesse do filho refletiu um pouco e resolveu por retrucar a ele com uma outra pergunta:

- Bom meu filho, isso depende muito, já sabe o que vai querer fazer de sua vida quando terminar a escola?

Nesse momento o filho encolhido, com ar de quem já havia pensado nisso mas ainda estava indeciso respondeu timidamente:

- Bem, andei pensando em estudar letras ou pedagogia, gosto bastante de ler e acho importante trabalhar com algo como a educação, mas não sei, ainda estou um pouco confuso...

O pai com cara de assustado e esforçando por se conter e manter seu status de autoridade responde em ar de conselho:

- Bom meu filho, nesse caso é possível que demore um pouco para que você venha a ter seu carro, essas carreiras são complicadas, trabalha-se muito e ganha-se mal, acredito que não seja o caminho mais fácil.

O filho ainda aturdido com a notícia e meio que em tom de súplica pergunta então a seu mestre:

- Então por favor me diga meu pai, qual profissão devo seguir? Como posso ter meu carro, minha casa e uma vida feliz?

Sem pensar duas vezes o pai responde como se fosse sábio:

- É melhor que você curse administração e arrume emprego na direção de alguma grande empresa da área de serviços, ou então faça engenharia e consiga se encaixar em alguma montadora multinacional, dessa forma vai com certeza estar um passo mais próximo de seu carro.

- Além do mais, letras e pedagogia não são cursos para homens.

O menino ainda meio perdido, sem saber se contava ao pai sobre seu profundo ódio para com a matemática e sua novíssima atração por meninos, e muito preocupado com a idéia de manter seu sonho automotivo vivo respondeu então avidamente:

- Então está decidido meu pai! Vou estudar engenharia comprar meu carro, arrumar uma esposa bonita ter dois filhos lindos e ser o homem mais feliz do mundo!

E o pai sorriu aliviado enquanto observava seu filho escapulindo pela porta da sala pensando “Meu menino cresceu e está muito bem encaminhado, fui um ótimo pai”, levantou-se do sofá, fechou o jornal e seguiu para cozinha.

Nesse meio tempo o filho mais novo que observava tudo (mais ou menos dez anos) pensava decididamente enquanto brincava com seus aviões de brinquedo: “Pois eu vou ser piloto de avião, passar quarenta horas por semana viajando pelo mundo, trabalhando e vivendo as coisas que eu mais gosto e no máximo duas horas dentro de um carro estúpido só pra que me leve aonde eu quero”.

O filho mais novo ainda não estava bem encaminhado..

Aleatoriedade

É difícil
ser poeta,
poesia não
nasce em
árvore,
brota da
carne

Nem todo
verso
é poesia,
Nem toda
poesia,
é verso

Nem todo
poeta
é homem,
Nem todo
homem
é poeta

Não é tão
simples,
matemático
é randômico,
problemático

É cinco em
mil,
vinte em
cem,
uma alma
acorrentada,
que da arte
é refém

sábado, 8 de outubro de 2011

Solidão Eterna

Pequeno,
Irrisível,
Solitário
Eis o impacto
monumental
do concreto
sobre as
vertebras

Eis ai o homem
perdido na solidez
de seu corpo
oco

Eis ai a construção
do tempo
sobre a fina
estampa existencial
e multiforme
do homossapiens

Pura opressão,
passos e asfalto
misturados
trocando ofensas
mútuas

Pura confusão,
liberdade e
livre-arbitrio
significando
um diagnóstico
precoce

Irredutível,
Irresoluto
Irreversivel,
Irreal

Pouco mais
do que se é,
bem menos do que
deveria ser.

sábado, 1 de outubro de 2011

Relance

acordei hoje perdendo o mundo, a consciência. Porque é que fui abrir denovo essa porta? Porque sempre essa necessidade louca e irredutível de trocar o torpor pela angústia?Sinceramente não sei se sinto falta do que passou ou se simplesmente não sou maiz capaz de conviver comigo. Parece, que tendo iluminado cada canto de minha existência, fui me esvaindo e desvendando as vozes comunais que guiam todos os meu passos. As linhas de força, ah essas linhas de força que inssistem em trazer uma rota mesma a tona, e eu que não tenho mais ninguém para me estabilizar desestabilizando. Me contento com a tua ausência que por si só me torna permanentemente instável, já não posso mais escrever sobre um mundo que não mais habito, seria falso. Sou por fim condenado a escrever infinitamente dentro dessa esfera burra e intimista. Minha nova casa é esse terror egocentrico que inssiste em me prender dentro de um cubículo sem janelas. Nem os ratos vivem aqui, o ar é pesado e isso afasta toda e qualquer forma de vida, ninguém gosta de viver no escuro. Vivo a reclamar do stress, do cansaço, da rotina, mas não sou capaz sequer de manipular o ócio sem deixar que vire tédio, não consigo conviver comigo nem sequer por um único final de semana, e no entanto estou condenado a mim para eternidade. Troco constantemente a frênesi imposta pela deliberada, tudo acaba por se resumir a uma mera questão de livre arbítrio. Não vai passar tão rápido, desta vez a dose foi cavalar, algo na natureza da coisa mudou, mundo e corpo se uniram na mesma reação convulsiva e tenho que segurar isso um pouco, não posso perder essa chance de me ver realmente antes que o mundo se reconfigure, não conseguiria nem que quizesse. Tenho que voltar à vida, deixei os selos pela metade e ningúem vai me perdoar, mas no momento não consigo sentir nada que me guie. Para onde foram aqueles cheiros que me alegravam? Será mesmo que vou ter que me contentar com o café e com as bolachas? Pelo menos o café cheira bem, quanto ao gosto, da-se um jeito. Talvez eu devesse degusta-los ao sol, me deixar sintetizar um pouco de vitamina E sem filtro solar, fingindo acreditar que a felicidade é algo biológico ou perene. Não daria certo, não consigo acreditar mais na ciência, aliás, acho que não acredito mais em nada. Em nada que dure mais do que um único instante e que provoque em mim um choque estúpido, só isso me faz viver, só isso me tira de minha condição de estátua. Pena que como os eclipses solares, isso só acontece raramente, e se acaba na mesma velocidade com que acontece deixando pros minutos subsequentes apenas resquícios de sombra e luz.